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Abandono Monumental

23/06/2015

Estádio Olímpico vive futuro indefinido e situação gera insegurança para moradores e comerciantes.

Por Laura Becker

O estádio que vivenciou alegrias e conquistas, hoje respira o ar do descaso e da incerteza. Em ruínas, o Olímpico é motivo de sofrimento para gremistas que lá viveram tantas glórias. Inaugurado em 1954, o local foi palco de quase todas as grandes conquistas tricolores. Por lá passaram craques, como Renato Portaluppi, Jardel e Ronaldinho Gaúcho. O futuro, agora, é incerto. Em dezembro de 2014, quando deixou de receber os treinamentos da equipe profissional, o Olímpico foi desocupado de vez à espera de uma implosão que não tem data para acontecer.

Em fase de demolição, principalmente na antiga área que abrigava as piscinas, no lado da Avenida Gastão Mazeron, o Monumental aguarda pelo desfecho das negociações entre Grêmio e OAS. Os dois lados silenciam. Procurada pela reportagem, a empreiteira afirma que a posse do terreno ainda é do clube, até hoje responsável pelo pagamento de seus tributos, como o IPTU, e por isso não comenta sobre o assunto da demolição. Já do lado tricolor a direção também prefere não comentar sobre o caso. Por meio de sua assessoria, o presidente do Grêmio, Romildo Bonzan Júnior, reforça que só entregará o Olímpico quando a negociação a respeito da Arena estiver encerrada, o que não tem previsão de acontecer tão cedo.

O último aditivo de contrato assinado em junho do ano passado estipula que a área na Azenha só será entregue à empreiteira depois que o Grêmio receber a gestão da Arena. No entanto, esta operação depende da concordância do Banco do Brasil, do Santander e do Banrisul — repassadores da linha de crédito de R$ 260 milhões obtida pela OAS junto ao BNDES para a construção do complexo no Humaitá. Para assumir o controle integral de seu novo estádio, o clube pagaria R$ 396 milhões parcelados à empreiteira ao longo de 20 anos. Com o escândalo da Operação Lava Jato, em que a OAS aparece envolvida, a situação ficou ainda mais complicada.

Estádio Olímpico Monumental. Foto: Laura Becker

Estádio Olímpico Monumental. Foto: Laura Becker

Enquanto a difícil negociação acontece, as obras de demolição estão paralisadas. A decisão ocorreu em comum acordo entre a Ramos Andrade, responsável pela obra, e a OAS. As reuniões da comissão montada pela prefeitura para gerenciar a demolição também cessaram. A última ocorreu em outubro do ano passado, para revisar o plano de evacuação do entorno do Olímpico no dia da implosão, o que ainda está longe de acontecer. Quase todas as licenças necessárias para a execução dos trabalhos seguem em vigor, de acordo com a Prefeitura.

                                                         Como fica a segurança

O velho Olímpico é guardado por oito seguranças. Eles se revezam em dois grupos, que trabalham em turnos de 12 horas — sempre com início às 7h e 19h. Mesmo assim eles não impedem as ações dos vândalos. Até uma grade de ferro foi erguida na Avenida Carlos Barbosa, mas, mesmo assim, os arrombamentos persistem. Moradora do bairro há sete anos, a dona de casa Vera Lúcia Oliveira da Cunha sente saudade do movimento em sua rua, na frente do prédio onde mora. Ela reclama agora da falta de segurança e do abandono do local, que também é sentido por quem mora nas redondezas do estádio.

– Agora ficou muito perigoso sair à noite. Eu vejo da janela do meu apartamento as pessoas entrando e roubando as coisas de dentro do Olímpico. Colocaram uma cerca ali, mas não adiantou nada. Eles continuam entrando. – ressalta Vera

Justamente para evitar que importantes objetos se perdessem, todo o mobiliário do velho estádio foi catalogado e reaproveitado em outras instalações do clube. Um enorme depósito na Arena guarda materiais de construção, como vidros, divisórias, luminárias e afins.

O sofrimento maior, no entanto, está no comércio. Com uma volta ao redor do estádio é possível notar que vários estabelecimentos comerciais, os bares principalmente, faliram ou deixaram o local. Quem ainda resiste é o restaurante Preliminar, ou conhecido bar do Faísca para os torcedores mais íntimos. Localizado em frente ao Pórtico de entrada do Olímpico, o local agora mal recebe clientes. Frequentado não só por torcedores em dias de jogos, mas diariamente pelos funcionários do tricolor, o restaurante amarga prejuízos.

– O movimento caiu em 90% depois que o Olímpico fechou as portas. Se demorar muito para definir o que vai acontecer aqui eu vou ter fechar, não tem mais como manter. – afirma o dono do estabelecimento, Edenilson Davi.

Antes, no entanto, a situação era bem diferente. Em um jogo o restaurante Preliminar lucrava o equivalente a um mês de trabalho. Agora, além da falta de clientes o proprietário precisa conviver com a insegurança.

– Agora ficou muito ruim. De noite você vê só “zumbi” circulando. Recentemente entraram aqui no bar, coisa que nunca tinha acontecido. – revela Edenilson.

Bar do Faísca. Crédito: Laura Becker

Bar do Faísca. Crédito: Laura Becker

                                                           Uma saída que não deu certo

            Com o anúncio da demolição do estádio ainda em 2013, muitos núcleos de torcedores gremistas se movimentaram para tentar impedir a realização do trabalho. A ação chegou até o plenário da câmara municipal. De autoria do agora deputado estadual, Pedro Ruas, e da vereadora Fernanda Melchionna, ambos do PSOL, a proposta enviada aos vereadores previa o tombamento do estádio Olímpico. De acordo com o projeto, o tombamento ficaria restrito à área física do estádio, não incluindo suas adjacências, e não haveria mudança de propriedade na área tombada. Ainda ficariam alterações físicas que descaracterizassem o conjunto arquitetônico do imóvel. A matéria previa a permissão de exploração comercial da área tombada e que as despesas decorrentes do tombamento não correriam por conta de verbas públicas, exceto as já previstas em lei ou que sejam objeto de convênio específico. No entanto, em votação no final do ano de 2013, a câmara decidiu por não realizar o tombamento. Para Pedro Ruas a decisão foi um erro. Ele ressalta que muitos estádios foram erguidos nos anos anteriores para a Copa do Mundo, enquanto que um com grande potencial foi destruído.

– O Brasil construiu inúmeros estádios, caríssimos, para a Copa do Mundo de 2014 e aqui no Rio Grande do Sul não foi aproveitado um que já estava pronto. O Olímpico tinha condições de abrigar todos os esportes e chegou a sediar a Universíade em 1963. Falta para Porto Alegre um lugar onde a comunidade possa conviver mais de perto com o esporte.

Enquanto as negociações não avançam, resta ao torcedor gremista observar o fim doloroso de um estádio que rendeu tantas glórias.

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